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O diálogo das Carmelitas
No jardim da colegiada de Bolena (perto de Avignon), participava num
debate relacionado com os temas abordados por Georges Bernanos nos seus
diálogos com as Carmelitas. Encontrava-me sob a magia daquele lugar.
Por que razão Bolena? Porque 32 freiras foram condenadas e executadas
em 1793 pela Comissão popular de Orange. Isso passou-se durante o
período revolucionário chamado o "Terror ".
As Carmelitas de Compiègne a que Bernanos se referiu, tal como as
de Bolena, tiveram a mesma sina.
Reli com grande admiração o Diálogo das Carmelitas.A
velha superiora do convento estava a morrer. Essa notável mulher,
de carácter muito rijo, encontrava-se desamparada e angustiada diante
da morte. A sua morte não se assemelhou à sua vida. Ao contrário,
a jovem e última noviça que ela acolhera, mostrava-se frágil
e cheia de medo. O menor obstáculo fê-la fugir. No último
momento, contudo, ultrapassou esse seu medo e foi juntar-se às suas
irmãs no cadafalso. A sua morte também não se assemelhou
à sua vida. Tudo se passou como se a morte dramática da Madre
superior tivesse permitido a morte heróica da noviça. Comunhão
dos santos. Alquimia da graça.
Como seria possível não passar das Carmelitas de Compiègne
aos monges de Thibérine? Cito com emoção as inesquecíveis
palavras do Prior de Nossa Senhora do Atlas no seu testamento espiritual:
"Se me acontecesse um dia - e isso poderia ser hoje - ser vítima
daquele terrorismo que parece englobar, actualmente, todos os estrangeiros
que vivem na Argélia, gostaria que a minha comunidade, a minha Igreja,
a minha família, se recordassem de que a minha tinha sido dada a
Deus e a este país... A minha vida não vale mais do que qualquer
outra. Mas também não vale menos..."
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Televisão em Berlim
- A emissão Théma tinha organizado uma sessão de
reflexão sobre os efeitos do Viagra. Os participantes, competentes
nesta matéria, informaram-me sobre os comportamentos das pessoas,
bem como sobre a questão do fracasso e do prazer.
- Destaquei o papel da sociedade, que alimenta o medo, tranquiliza, estabelece
a conformidade, com o perigo de fabricar um mundo insípido. O resultado
é o medo de não corresponder, de sofrer uma falha, de não
estar à altura... A sociedade coloca à nossa disposição
todos os tipos de produtos para que possamos estar em forma, para que façamos
face, para que tenhamos sucesso. Esses produtos são caros, em muitos
casos, nem sempre sendo indispensáveis, enquanto há populações
do terceiro mundo que nem sequer têm medicamentos necessários
à sua sobrevivência.
- Não tenhamos ilusões. Os medos não podem ser vencidos
por meios que vêm do exterior. Precisamos, sim, de coisas que nos
libertem, vindas do interior.
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Universidade de Grenada
Os Jesuitas de Granada organizaram uma Universidade de Verão
com o tema "futuro das religiões".
- Nessa terra andalusa, carregada de história e sempre acalentada
pelo sol, como foi agradável travar conhecimento com outras pessoas
e aprender com elas num clima de abertura e de escuta!
- R. Cardonal, vice-reitor da Universidade de El Salvador, falou da Teologia
da Libertação, cuja característica é o seu
ponto de partida: os pobres, os oprimidos com os quais Jesus se identificou,
sem se esquecer de adoptar a sua maneira de ver o real, razão da
escolha de uma análise que permita compreender os mecanismos sociais
que produzem a miséria e o esmagamento do homem. Compreende-se,
pois, que essa Teologia da Libertação meta medo à
gente do poder!
- Acentuei, nas minhas intervenções, que o futuro estava
nas margens. Quando as Igrejas se tornam marginais, é a marginalidade
que se torna central.
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Encontro na Baviera
Na muito católica Baviera, foi preparada minuciosamente uma série
de encontros e de celebrações ao som da alegria e da festa.
Uma delas teve lugar em Augsburgo. Muitos cristãos pertencentes
a associações de defesa dos estrangeiros sem documentos descreveram
a sua corajosa acção junto deles, apesar das oposições
e dos conflitos que tiveram de enfrentar. Esses cristãos não
contaram apenas o que faziam com e para os estrangeiros. Também falaram
daquilo que tinham aprendido e recebido deles, a saber: o sentido do humano,
de se ser verdadeiro, a importância de viver o momento presente, a
confiança em Deus, uma nova maneira de rezar... Fui dominado pela
admiração e, espontaneamente, subiram-me aos lábios
as palavras de Jesus: "Abençoo-te, Pai, Senhor do céu
e da terra, por teres escondido isso aos sábios e aos inteligentes
e tê-lo revelado aos mais pequenos".
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Abadia de Mondaye (Normandia)
Era dia de festa para todos aqueles que tinham ido assistir à
benção do novo Abade de Prémontrés. Tínhamo-nos
conhecido no serviço militar. Desde então, os nossos elos
de amizade jamais haviam deixado de existir. Sentia-me feliz por estar ali,
ao seu lado. A beleza sóbria da liturgia desenrolava-se ante os nossos
olhos, impregnando os nossos corações e os nossos espíritos
com doçura.
No momento em que o Abade recebeu o encargo de todos os seus irmãos,
pensei na célebre oração de um Padre Abade cisterciense
pelos seus monges. Referimo-nos a Aelred de Rievaulx. Na sua oração,
esse Abade dirigiu-se a Jesus, o Bom Pastor. Nada pedia para si próprio,
mas tudo pedia para os seus monges.
- "Conheceis o meu coração, Senhor: tudo o que
me haveis dado, a mim, Vosso servidor, desejo dá-lo sem reserva
e utilizá-lo inteiramente para eles. Desejo, sobretudo, utilizar-me
de todo o coração para eles.
- Que assim seja, meu Senhor! Os meus sentimentos e as minhas palavras,
as minhas ocupações e os meus repousos, os meus pensamentos
e as minhas acções, os meus sucessos e os meus fracassos,
a minha vida e a minha morte, a saúde e a doença, tudo aquilo
que seu sou, aquilo que eu vivo, aquilo que sinto, aquilo que compreendo,
que tudo lhes seja dado, a eles, por quem vós próprio não
desdenhou dar-se, e que toda a minha ternura lhes seja dada. Vós
sabeis, meu Senhor, que não é com um espírito de rigor
nem de dominação que os comando, que lhes desejo ser útil
na caridade, de preferência a dominá-los, que a humildade
me leva a submeter-me a eles e a afeição a estar no meio
deles como sendo um deles".
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