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V Centenário da morte de Savonarola
O destino de Savonarola está ligado à cidade de Florença.
As comunidades populares que me convidaram encontram-se no convento de S.
Marcos, importante lugar espiritual onde Savonarola foi prior durante largos
anos. Pregador zeloso, defensor dos pobres, rejeitado pelos poderosos, não
deixou ninguém indiferente. O povo simples de Florença gostava
dele e acorria a ouvi-lo. Ele clamava por uma reforma audaciosa tanto para
a sociedade como para a Igreja. Personagem controverso, Savonarola continua
a ser uma figura emblemática.
- Na beleza calma do claustro e perante um auditório atento, sucedem-se
as intervenções sobre aquele que viria a terminar a sua vida
na fogueira.
- Tenho tempo para rever, sempre com a mesma emoção, os
frescos do frei Angélico. Que maravilha!
No Convento de S. Marcos estamos no centro de Florença. No centro
da sua história, da sua cultura, da sua espiritualidade. Deixámos
o centro para ir ao coração. O coração é
o Bairro de Piagge. No centro da cidade encontram-se o turismo, a multidão,
o comércio, o dinheiro, a segurança... No coração
encontram-se os marginais, os sem-direitos, o povo simples tão caro
a Savonarola.
Dirigimo-nos para a praça de Isolotto onde desde há 30
anos se reúnem comunidades de base empenhadas na reforma da sociedade
e da Igreja. Continuámos a nossa peregrinação pela
praça de Signoria, onde Savonarola foi queimado na fogueira. O lugar
exacto onde isso aconteceu está coberto de flores. A multidão
aglomera-se.
Ultima etapa: a Ponte Vecchio. As cinzas de Savonarola foram lançadas
ao Arno. Fizeram desaparecer o profeta desarmado; mas não conseguiram
impedir que a sua palavra continue a ressoar.
Apadrinhamento civil dos sem-papéis -
Havia uma grande multidão no teatro Gérard Philippe em
Saint Denis. Durante dois dias, num ambiente de festa, desenvolveu-se uma
operação "apadrinhamento não-pára"
para mais de 2.500 sem-papéis!. Um êxito total! Um acontecimento
que foi acompanhado por toda a imprensa. Um pouco por todo o lado, em França,
as autarquias vão encarregar-se da divulgação deste
problema.
Neste teatro, gente da rua e personalidades acotovelam-se para se inscreverem
nas listas de apadrinhamento, enquanto os sem-papéis esperam com
impaciência o seu novo protector. Encontro-me no meio desta multidão.
Também eu estou impaciente. Por fim aí está ele, chama-se
Hamadu. A sua mulher e os seus dois filhos ficaram no Mali. Nasce uma amizade,
Hamadu está contente, já não está só.
Sinto-me ligado a ele, empenho-me na defesa dos seus direitos. Hamadu recebe
um bilhete de identidade com o carimbo do presidente da Câmara, símbolo
de um empenhamento recíproco.
Jacques Gaillot
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