A Carta de Jacques Gaillot de Agosto 1999

O sol tem encontro marcado com a lua

Novo livro: Igreja virtual

 

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O sol tem encontro marcado com a lua

O eclipse total de 11 de Agosto é um acontecimento que suscita entusiasmo, alimenta os sonhos mais loucos e gera também medos incontrolados. Anunciam-se catástrofes em Paris e pressionam-me para fugir da capital nesse dia! Este eclipse total que só em 2081 voltará a acontecer diz respeito à nossa galáxia. Mas há milhões de galáxias distanciadas por milhões de anos luz. O nosso sol, que é uma estrela entre biliões de estrelas, envia-nos a sua luz em apenas oito minutos.
Os progressos das ciências modificaram o nosso olhar sobre o universo e deram-nos uma outra imagem do ser humano. Já não estamos no centro do mundo. O nosso pedestal já não tem razão de ser. O nosso domínio é ilusório.
Com modéstia, aprendemos a ocupar o nosso lugar na imensa evolução do cosmos. O ser humano chega através de uma longa história. Está ligado ao conjunto do universo. Tudo está ligado. O ser humano é um fragmento desse conjunto. Toma consciência da sua dependência em relação a tudo o que vive. É chamado a situar-se com simplicidade e em harmonia ao lado das estrelas, dos vegetais, das plantas, dos animais. É um habitante da terra. Um filho do cosmos.
O último eclipse do século é a oportunidade para retomar o Cântico do Sol chamado também Cântico das Criaturas que Francisco compôs no entardecer da sua vida.
O pobrezinho de Assis não beneficiava de todos os conhecimentos que hoje temos do universo. Mas soube situar-se no interior da criação onde tudo está ligado. Não se colocou acima das criaturas. Com um coração de pobre, situou-se "com", compreendendo que a fraternidade humana se estendia à fraternidade cósmica. Reintegrava assim o humano no cósmico.
Tornava-se assim irmão universal.
    "Oh altíssimo, todo poderoso e bom Senhor
    a Ti a honra, a glória e o louvor,
    e toda a benção.
    Só de Ti se pode assim dizer, oh Altíssimo,
    E nenhum homem é digno de mencionar o Teu nome.
     
    Louvado sejas, meu Senhor, com todas as criaturas,
    Especialmente o senhor irmão sol
    Que faz o dia e pelo qual Tu nos iluminas.
    Ele é belo, radioso e com grande esplendor:
    Ele é o Teu símbolo, oh Altíssimo.
     
    Louvado sejas, meu Senhor
    Pela irmã lua e as estrelas:
    No céu Tu as formaste
    Claras, preciosas e belas.
     
    Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
    Pelo ar e pelas nuvens,
    Pelo azul calmo e todos os climas:
    Por eles Tu dás vida às Tuas criaturas.
     
    Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
    Que é tão útil e humilde
    Preciosa e casta.
     
    Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
    Por quem iluminas a noite:
    Ele é belo e alegre, indomável e forte.
     
    Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa mãe terra
    Que nos transporta e nos alimenta:
    Ela produz a diversidade dos frutos
    Com as flores coloridas e as ervas.
     
    Louvado sejas, meu Senhor,
    Por aqueles que perdoam por Teu amor
    E suportam doenças e tribulações:
    Felizes são eles quando se mantêm na paz".
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Mgr. Jacques Gaillot
IGREJA VIRTUAL
Igreja do Ano 2000
Um bispo no reino da Internet

Quando em Janeiro de 1995 Jacques Gaillot foi brutalmente demitido das suas funções em Evreux, essa evicção toma a forma, um pouco surrealista, de uma nomeação à frente de uma diocese fictícia desde há séculos, Partenia, na Argélia. Desse modo, faz dele uma espécie de bispo virtual cujos potenciais paroquianos estavam disseminados por todo o planeta...

Um ano depois, decidindo tomar à letra a sua nomeação, cria um site Internet para se corresponder com interlocutores de todo o mundo. O sucesso foi imediato: de toda a França, do Canadá, da Austrália e de dezenas de países, milhares de internautas leigos e religiosos, cristãos ou não, apoiantes ou opositores, conversaram sobre os mais diversos assuntos.

Este livro dá conta deste extraordinário lugar de intercâmbio que é o site Partenia 2000, reflexo de uma Igreja de amanhã para a qual a divisão geográfica das dioceses, herdada da Idade Média, já não terá muito sentido. Jacques Gaillot apresenta, recolhidas por Philippe Huet e Elizabeth Coquart, mensagens que falam de exclusão, de racismo, de pena de morte e de muitas outras questões quentes. Sonho de uma Igreja a par com a evolução do mundo, evocação de revoltas e de esperanças de toda uma geração, esta compilação de testemunhos, que o bispo recebe com a fé que o habita, inaugura um género de "pastoral" totalmente inédito.


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