Eutanásia
Não gosto desta palavra nem da distinção "eutanásia
passiva, eutanásia activa", nem mesmo da expressão "paliativos".
Mas a realidade existe.
Como gerir o fim da vida e morrer com dignidade? É um debate social
relançado com o interrogatório de uma enfermeira que ajudou
trinta doentes a morrer.
No hospital, uma idosa que visitei disse-me: "eu não tenho
medo da morte, desejo-a. O que não aceito é o sofrimento.
Nunca pensei que se sofresse tanto".
Como é que hoje, num grande hospital, não se pode atenuar
a dor dos pacientes? Será porque médicos todo-poderosos, formados
para curar, não aceitam preparar para a morte? Levam-se os cuidados
até ao extremo, sem ter em conta o fim da vida.
Ainda no hospital, vou visitar um jovem que está gravemente doente:
"o pessoal da enfermagem é muito simpático e competente,
diz ele, mas passa muito depressa e apenas falamos da medicação.
Gostaria de falar de outras coisas com eles, mas vejo que não é
possível. Há dias encontrava-me numa tal solidão que
apenas desejava que a enfermeira me pusesse a mão na testa".
Solidão dos doentes. Diálogo inexistente. Exactamente quando
doentes se enfrentam com as questões essenciais da vida e da morte.
No hospital a morte tornou-se muito medicada. Escapa muitas vezes aos
doentes. O direito de morrer com dignidade não é dar a cada
um e cada uma o seu lugar no fim da sua vida? Partilhando a sua dor, acompanhando-o
dia a dia para quebrar a sua solidão? Ajudando-o a olhar de frente
o importante acontecimento da sua morte para a poder viver com dignidade?
Dar medicamentos para provocar a morte parece-me não respeitar
a dignidade dos doentes. Fazer tudo para que eles não sofram e acompanhá-los
até ao fim não é morrer com dignidade?
Jacques Gaillot
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