A celebração do Newroz
A 21 de Março, a Festa do Newroz é a oportunidade
para milhões de kurdos (onde quer que se encontrem) afirmarem
a sua existência e recusarem qualquer tentativa de assimilação
forçada.
Esta festa comemora o nascimento do povo kurdo e a tomada
de consciência da sua cultura, cuja origem é anterior
à era cristã, numa região que foi o berço
da humanidade.
Festa caracterizada por cantos e danças colectivas
acompanhadas por instrumentos tradicionais, constitui um acto
forte de resistência e afirmação da existência
do povo kurdo.
O governo turco, apesar de enviar para lá o exército
e fechar o Kurdistão aos estrangeiros, nunca conseguiu
impedir os kurdos de festejarem o Newroz. Neste ano dois mil,
os festejos revestiam um carácter particular: aconteciam
pela primeira vez num Kurdistão da Turquia onde a maior
parte das grandes cidades, nas eleições de 18 de
Abril, tinham eleito as municipalidade pelo HADEP (partido turco
pro-kurdo).
A festa estava prevista para Diyarbakir, cidade histórica
de muralhas célebres, actualmente com 1,5 milhão
de habitantes incluindo os refugiados das montanhas, expulsos
pelo exército.
Os que foram eleitos quiseram fazer do Newroz o reconhecimento
da identidade do povo kurdo, com a participação
internacional de artistas, intelectuais e personalidades da cultura.
Foi um êxito em todos os sentidos. Uma multidão
imensa, avaliada em 200.000 pessoas, sobretudo jovens, manifestava
a sua alegria e cantava a paz.
Eu fazia parte da delegação francesa que devia
participar na Festa do Newroz. Nas minhas viagens anteriores
não tinha tido possibilidade de ir até Diyarbakir.
Uma vez mais tivemos oportunidade de experimentar os incómodos
de um regime que monta barragens e postos de controle do exército
e da polícia, e que mantém um cerco cerrado à
cidade de Diyarbakir. Tudo estava a ser feito para que chegássemos
depois da festa. Nós não estaríamos na multidão
em alegria colectiva, mas faríamos parte dela. Não
era isso o essencial?
Apesar da prisão e ameaças de morte que pesam
sobre o líder Ochalam, o PKK lançou um apelo à
interrupção da luta armada e à abertura
do diálogo, para uma sociedade de paz e democracia. Os
kurdos querem profundamente a paz e a participação
em igualdade de direitos com os turcos, para construírem
uma Turquia moderna e democrática.
Tive a sensação pela primeira vez que uma frágil
esperança de paz nascia. |