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O MISTÉRIO DO MAL
Porque é que o homem e a mulher sofrem? Qual a origem, qual o
sentido da dor humana? É esta a questão que cada um e cada
uma se põem quando o sofrimento bate à sua porta e perante
o espectáculo de tantas injustiças, exclusões e dores.
A questão não é necessariamente formulada, mas está
subjacente à atitude com que se enfrenta este sofrimento: revolta
ou resignação, fuga ou aceitação mais ou menos
espontânea. Tentemos situar-nos na infinita variedade de modos de
enfrentar a questão do mal. Duas precisões importantes:
- Por um lado o sofrimento não esgota o mal. Há males com
os quais nós não sofremos imediatamente e que não
deixam de ser figuras do mal. Pensemos na guerra, nas estruturas do mal
que oprimem os povos.
- Por outro lado, nenhuma abordagem do mal explica a realidade do mal.
Estamos desprevenidos perante o desencadeamento do mal. O cristão
não têm mais soluções que os outros. Busca e
luta juntamente com outros contra o mal e seus efeitos.
- Devido a esta complexidade que não é tanto intelectual
mas existencial, isto é que toca muitas pessoas na sua carne, o
cristão apenas pode balbuciar algumas palavras a respeito do mal.
- Antes de mais contempla a figura de Cristo-Jesus, que passou pelo mal,
a violência, o fracasso, o sofrimento. Na véspera da sua morte
foi abandonado por todos. Ele não só não evitou o
mal como procurou carregar o sofrimento, o mal de toda a humanidade e de
maneira especial o do inocente perseguido, do fraco, do último,
que sofre especialmente de injustiça e exclusão.
- Além disso, ainda que não seja fácil de pensar,
o cristão não situa o mal em Deus. Para ele o sofrimento,
o mal está fora do mundo de Deus.
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- Ele não diz "Deus quis o mal", se não faria
de Deus um Deus perverso, um Deus que não é um Deus de aliança.
O Deus de Jesus e dos cristãos anda continuamente à procura
da humanidade, para dizer a cada um e cada uma "para mim tu vales
muito".
- Onde está então o mal? O cristão recusa situá-lo
no coração do homem. Ninguém inventa o mal, todos
o herdamos. Afirmamos que o homem, criado para a liberdade, transporta
nele uma ferida, que não é simplesmente a marca do seu lado
finito, mas que tem alguma coisa a ver com o facto de recusar a vida e
de se afastar voluntariamente de Deus.
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