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A FAMILIA
- Ao lado da família fundada no casamento, existem hoje famílias
baseadas na união livre. Paralelamente, o divórcio ou a separação
geram famílias monoparentais. Acontecem novas e diversas recomposições,
totalmente diferentes segundo as concepções de cada um, o
número de filhos de um
- lado ou de outro, a idade e o aparecimento de outros filhos.
- Face a estas fragmentações e diversas recomposições,
a família continua a ser um valor plebiscitado. A crise põe
em risco um tipo de família clássica, que data do séc.
XIX e nos serve de referência.
Caracterizava-se nomeadamente pela divisão estricta do trabalho
entre homem e mulher, tornando a mulher dependente do seu marido. Não
se pode fazer dela um ideal absoluto. Hoje não se assiste ao fim
da família, mas ao nascimento de uma pluralidade de famílias.
"As pessoas continuam a pensar que a família constitui um dos
meios ideais para se ser feliz e para a realização pessoal"(1).
O lar continua a ser o lugar quente da intimidade, do amor incondicional,
do repouso e da descontração. Todas as formas familiares novas
tendem, com mais ou menos êxito, a realizar este ideal. A crise da
família não se deve à recusa de valores mas à
emergência de novos valores importantes. É o caso da grande
procura de autonomia e liberdade. A pessoa, homem ou mulher, não
é apenas condicionada pelas suas pertenças sociais e familiares,
ela aspira a construir-se de maneira autónoma; procura uma liberdade
de acção no seio dos constrangimentos sociais. Trata-se de
um valor não apenas a respeitar, mas a promover enquanto valor de
humanidade. Os progressos médicos, com o nsinamento da vida e, numa
certa medida, da morte, têm permitido em certos casos sair da fatalidade
para aceder a uma vida mais responsável. Trata-se de uma mudança
qualitativa de comportamento. A interdependência e a gestão
do tempo, simultaneamente acelerado e prolongado, implicam rajectórias
pessoais não determinadas de antemão e oferecem oportunidades
de vida ou sequências de vida mais variadas e em maior número.
Paralelamente desenvolvem-se os valores de adaptação e criatividade.
A expectativa de felicidade e descontracção no casal não
pode ser desvalorizada em nome de um certo realismo, mas antes aprofundada.
O sentimento amoroso é uma das coisas boas da humanidade.
Enfim, a aspiração das mulheres a relações
mais justas e a uma melhor partilha das tarefas, e a de alguns homens a
sairem do seu papel social exterior ao lar, conduzem a uma parceria necessária
à construção das famílias de hoje. Estas aspirações
interrogam também o todo poderoso valor conómico do trabalho
que negligencia os valores de relação. Não se pode
deixar de respeitar uma tal emergência e contribuir para a desenvolver.
Este respeito vai a par com uma confiança na aptidão do ser
humano para descobrir novas soluções e gerir a sua vida responsavelmente.
- As instituições civis ou religiosas são vistas
como cerco e bloqueio.
- Para continuarem ao serviço de uma necessária estabilidade
dos casais e das famílias, têm que integrar e desenvolver
uma concepção da vida como história aberta e evolutiva.
(1) François de Singly, Sociologie de la famille contemporaine,
Nathan 1993 |