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- Inicio em casa
Mc 2, 1-12: a cura do paralítico
A cura do paralítico acontece em Cafarnaum. Só
por si, o nome da cidade é já um programa completo
de salvação. Em hebraico Kéfar Nahum,
quer dizer cidade de Nahum e Nahum significa por sua vez o consolado.
Jesus fixa então a sua morada na cidade do consolado. |
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Em Kefar Nahum, o episódio passa-se em casa de
Jesus, que é também a casa de Pedro e de André.
O desenrolar da história vem-nos falar também de
uma outra casa, esta pertença do paralítico: Levanta-te,
pega na enxerga e vai para casa. Eventualmente seria curta
a distância a separar as duas casas, mas que itinerário
mais cheio de significação este que irá
conduzir o paralítico até casa, um caminhar no
qual não poderíamos deixar de realçar alguns
aspectos:
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- Um Caminhar na surpresa
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Até este momento o paralítico só tinha
conhecido a imobilidade e a dependência. |
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- É a fé forte daqueles que o transportam
que deverá fazer face a um caminho desconcertante. Estando
a porta bloqueada pela imensa multidão que veio para escutar
Jesus, seria necessário encontrar uma alternativa, neste
caso o telhado, onde correm o risco de vir a deixar cair o enfermo...
Encontramos aqui uma inversão de sentido na forma de remeter-se
a Deus: Um doente acamado têm frente a si o tecto, quando
suplica a Deus para ser curado. Sentido que encontramos expresso
também pela boca do profeta Isaías: Quem dera
que rasgasses os céus e descesses ( Cf. IS 63, 19).
Mais eis que o Altíssimo vêm, Ele já não
está lá no alto dos céus, mas encontramo-lo
agora sob o mesmo tecto que os Humanos, encontramo-lo em nossa
casa a qual se torna lugar por excelência do encontro.
O Homem "rasga" o tecto, símbolo do que o afasta
de Deus e que o encerra em si mesmo, para acolher este Deus que
se faz presença.
Para o paralítico vai ser grande a surpresa! Ele que vinha
para uma cura imediata, dá-se conta que a urgência
neste caso é outra: Filho, os teus pecados estão
perdoados.(Cf. Mc 2, 5)
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- Um caminhar na dignidade
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Jesus não aponta o paralítico como pecador,
não o acusa frente à multidão das faltas
cometidas o que seria humilhá-lo publicamente. Frente
à multidão, Jesus invoca a inocência da criança
fazendo uso do termo grego Tecknon (literalmente filhinho),
para perdoar sem ferir a este homem privado de movimentos e de
voz. |
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- Um caminhar na verdade.
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No entanto, mesmo paralítico ninguém (nem mesmo
a personagem da nossa história) escapa à sua condição
de adulto, pelo que Jesus o conduz a um caminho de Verdade. |
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- Se pecou é sinal de que não se trata de
um ser infra-humano, pois é capaz de interiormente dizer
não a qualquer pessoa inclusivé a Deus. È
precisamente por isso, que Jesus recorda à multidão
que o que provoca o pecado é interior ao Homem e não
exterior: O que sai do Homem, isso é que torna o Homem
impuro. Porque é do interior do coração
que saem os maus pensamentos... ( Cf. Mc 7, 14-22) (N.Trad.
pecado na cultura semita da altura é tomado como sinónimo
de impureza, as doenças como a lepra por exemplo conduziam
à situação de proscritos na sociedade).
Ora o facto de estar imobilizado, não significa imunidade
em relação aos maus pensamentos.
Para o paralítico o despertar da consciência é
o primeiro passo rumo à cura, ao levantar-se e poder andar.
O perdão de Jesus aponta o perdão que tem por fundamento
o amor de Deus Pai, aponta em ultima instância para a condição
de uma humanidade de filhos muito amados. Levanta-te, pega
no teu catre e vai...( Cf. Mc 2, 11), mostrar diante de todos
onde está a fonte.
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- Um caminhar na liberdade.
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Vai para tua casa; são as ultimas palavras que
Jesus dirige ao paralítico. A este homem, é-lhe
dado voltar a casa, envolto numa dinâmica de vida nova
a qual é chamado a recriar. |
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- O caminho que lhe é dado a percorrer é de
liberdade e já não de dependência como antes,
a casa para onde regressa, será agora a casa de um homem
renovado de corpo e alma. A partir deste momento na sua oração
será presença o Jesus de Cafarnaum, que visita
e consola o seu povo.
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