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- As Palmas ou o triunfo
do jumento.
Os evangelistas contam que, no início da semana
que antecede os acontecimentos trágicos da morte de Jesus,
este pediu que lhe trouxessem um jumento. "Estando próximos
de Jerusalém, perto de Betfagé e de Betânia,
junto ao Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois dos seus discípulos
e disse-lhes:
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"Ide à povoação que está
em frente de vós e, logo que nela entrardes, encontrareis
um jumentinho preso, que ainda ninguém montou. Soltai-o
e trazei-o. E se alguém vos perguntar: Porque fazeis isso?
Respondei: O Senhor precisa dele; e logo o mandará de
volta." (Cf. Mt 21,1-11 e par). |
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- Qual é afinal a importância de um jumento
neste simulacro de triunfo ao qual chamamos Domingo de Ramos,
devido ao simples facto, de os partidários de Jesus o
terem recebido em Jerusalém acenando com ramos de palmeira
e de outros arbustos verdes? Talvez a explicação
esteja no facto de o jumento, no fundo ser a antítese
do cavalo.
A tradição bíblica faz aparecer normalmente
o cavalo como imagem de força, de poder, querendo expressar
de certa forma a autoconfiança egoísta e orgulhoso
exacerbado do Homem. Um Homem a cavalo é de tal forma
poderoso que consegue esmagar os seus inimigos; é um Homem
preparado para a batalha, podendo desta forma dispensar até
o próprio Deus. O Cavalo é aparelhado para os reis
e para os poderosos. Ele é arma e símbolo da violência
guerreira, do orgulho e arrogância do Homem, símbolo
da sede desenfreada de conquista.
Em oposição ao cavalo, temos o jumento. Animal
normalmente destinado a tarefas mais pacíficas sendo muito
comum vê-lo associado ao trabalho mais humilde. O jumento
é um animal que vive de pouco, tal como os pobres e os
camponeses a quem serve de ''braço direito" na luta
diária pela sobrevivência. De facto, não
nos deverá surpreender que Jesus, amigo dos pobres e oprimidos,
servo dos servos de Yawhé, decida fazer a sua entrada
triunfal em Jerusalém montado num jumentinho.
Uma vez mais, o evangelho mostra-nos Jesus não só
como Senhor mas também como servo. O mesmo Jesus, que
ao lavar os pés aos discípulos se afirma como Senhor
e Mestre, vêmo-lo entrar agora na grande cidade de Jerusalém
montado numa humilde criatura, um jumento.
Afinal que Mestre e Senhor é este que chega aclamado pelo
povo com palmas e ramos de arbustos verdes, como o bendito que
vem em nome do Senhor?
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Pois bem, este Mestre e Senhor que chega é o que Pedro
reconhece como tendo palavras de vida eterna , como aquele
cujas palavras dão sentido à vida. Este é
um Mestre de sabedoria, uma sabedoria que não se impõe,
mas que é sempre proposta: "Se queres...".
É precisamente este misto de vulnerabilidade e autoridade
que seduz os amigos de Jesus e que de certa forma, lhes permite
reconhecer nesse mesmo Jesus um ser humano como eles na sua fragilidade
mas também um ser humano no qual a fragilidade se encontra
habitada por um sopro de vida proveniente do alto, proveniente
de Deus. |
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