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- Igreja e igrejas
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- As machadadas na porta da igreja de Saint-Bernard em Paris
e a evacuação forçada dos "sem- papéis"
pelas forças da ordem foi ontem. Um primeiro escalão
fora ultrapassado. O " direito de asilo" nas igrejas
tinha acabado. Mas o caso teve tais repercussões que muitos
quiseram apenas ver como um simples passo em falso.
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- Os "sem-papéis" são legalizados
caso a caso, significando por isso a "conta-gotas".
Esgotados, muitos vêm na "ocupação"
de igrejas o último recurso para se fazerem ouvir.
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Em Agosto de 2002, a Basílica de Saint- Denis foi ocupada
durante quinze dias. Com toda a tranquilidade. E com a conivência
do seu capelão. Mas não com a dos bispos da Île
de France que, a 23 de Setembro, assinaram um comunicado em que
afirmam que "tais situações não servem
a causa dos "sem-papéis" e não melhora
a sua situação." Em termos mais ou menos escolhidos,
estes bispos afirmam a sua solidariedade na condição
de os "sem-papéis" se afastarem das igrejas. |
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Comunicado de circunstância ? Nem pensar ! Enquanto
os bispos de França estão reunidos em Lourdes,
os "sem-papéis" ocupam de novo uma igreja de
Paris. A polícia interveio quase imediatamente insistindo
em que o "fez a pedido dos responsáveis". O
mal estava feito. |
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Sabe-se que, a partir de agora, ocupar uma igreja já não
garante a segurança dos "sem-papéis".
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Na Mesquita de Paris
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O Reitor e o Grand Muphti da Mesquita de Paris receberam-me,
acompanhado pelo Comité dos Sem Abrigo. No salão
a atmosfera foi do melhor convívio. Durante duas horas
vivemos a fraternidade com alegria e simplicidade. |
Nós vínhamos oficialmente, pedir a intervenção
do Reitor junto do Presidente da República, para lhe expor
as dificuldades e os bloqueios por que passam actualmente os
"sem-papéis". Neste período em que todas
as grandes religiões se preparam para comemorar os importantes
acontecimentos espirituais ( Ramadão, Natal, Hanoucca
), solicitamos um gesto significativo a favor da regularização.
Sem manifestar a mais pequena reserva, o Reitor concordou
de imediato em fazer tudo o que estivesse ao seu alcance e falar
com o Presidente. Em conjunto fizemos um texto. Lemos, relemos,
corrigimos, assinámos e enviámo-lo à imprensa.
O Reitor agradeceu-nos, não apenas por lhe termos pedido
a colaboração mas sobretudo por sermos solidários
com estes jovens "sem-papéis" cuja vida é
tão dura. Se não estivesse no Ramadhan ter-nos-ia
convidado para a refeição. |
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Ao sair da Mesquita os jovens argelinos da comitiva estavam
simultaneamente felizes e orgulhosos do maravilhoso acolhimento
que nos foi proporcionado. |
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Expulsas famílias
do Mali
Durante anos pediram alojamento. Sem sucesso. Para acabar
com as precárias condições do seu habitat,
essas famílias decidiram ocupar apartamentos vagos num
bairro degradado.
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Por diversas vezes as expulsões foram executadas por
forças policiais. As famílias bem como as suas
crianças foram postas na rua. |
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- As famílias foram acolhidas por aquelas que ainda
não tinham sido expulsas. A solidariedade é assim
!
Mas que amontoado de gente nesses apartamentos onde não
existe nem electricidade nem gás canalizado! Convidado
pela comissão de apoio, passei a tarde a visitá-los.
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- Fico comovido ao ver essas mulheres cansadas mas determinadas,
essas crianças que não podem ir à escola,
esses pais de família que têm documentos, trabalham
mas não conseguem encontrar um alojamento digno para os
seus. Nunca me habituarei a esse escândalo. Os media estão
presentes, tomando nota da dimensão desta triste situação.
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- Finalmente teve lugar um encontro na Prefeitura. As famílias
estão na rua, de pé, debaixo de uma chuva glacial.
Permanecerão durante horas, rodeadas de polícias,
enquanto que o imenso e bem aquecido hall as teria podido acolher.
Com a delegação, de que eu fazia parte, sentámo-nos
à mesa das negociações.
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O mote foi dado de imediato: "Senhor Perfeito há
mulheres e crianças em perigo!". Não haverá
mais expulsões e serão encontrados 12 alojamentos.
Terá continuação. É noite quando
saímos. Toda a gente permaneceu debaixo de chuva esperando
ouvir palavras de esperança que não sejam apenas
promessas. |
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José Bové
condenado
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Fui convidado pelos " Peuples Solidaires " nos Hautes
Alpes, em Embrun, para uma conferência - debate: "Pobres
no seu país, sem documentos aqui: que lhes reserva o futuro?".
O salão de baile está rodeado de stands
mantidos por associações de solidariedade. |
Como sempre, constato que é muito importante para
as pessoas terem conhecido um "sem-papéis",
de o conhecer cara a cara, de ter relações com
ele.
Assim tudo muda. Caso contrário, mantêm-se a ideia
generalizada do medo dos estrangeiros.
Depois daquele encontro tão positivo, fui a casa
de um casal amigo, da confederação de camponeses.
Na montanha, onde o ar é tão puro, eles têm
um rebanho de cabras e vendem queijos fabricados por eles. Com
os seus dois filhos, levam uma vida feliz, simples, próxima
da natureza. Sinto-me bem em casa deles.
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No fim da tarde ouvimos na rádio que José Bové
fora condenado a 14 meses de prisão. Ficámos consternados.
O seu combate contra as OGM é um assunto que vale a pena
ser tratado, pois compromete o futuro. |
Mandar um responsável sindical para a prisão
não pode deixar de trazer consequências. Uma vez
mais sentimos que existem duas justiças. |
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