Diário de Bordo: Fevereiro 2000 |
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Caminhar inovando Quando ia celebrar missa com um grupo de partilha que se reúne todos os meses, uma equipa de televisão do Canal + esperava-me para uma entrevista. Terminada a entrevista, continua a conversa com os jovens das câmaras. "Não é por acaso que trabalhamos nisto. Eu não poderia ter um trabalho onde soubesse de antemão o que se iria passar, onde tudo estivesse programado. Por exemplo, amanhã não sei o que irei fazer, aonde irei, com quem irei trabalhar. Se uma pessoa se instala, está tudo estragado. Eu faço o meu caminho e procuro viver". Fiquei admirado ao ouvir estas palavras. Dizia para comigo
mesmo: "Estes jovens são felizes por pensarem assim,
por viverem assim. Têm liberdade para acolher o novo, para
caminhar inovando! Vivem sem se proteger." Ecumenismo de base Um após outro, fui convidado para três periferias difíceis: Neuehof (Strasbourg), Schaerbeeck (Bruxelles) e Bagatelle (Toulouse). Mosbah, da associação Mosaique, queria que após o iman de Marselha fosse apresentar o cristianismo. Hassane, do almotacel da Juventude de Schaerbeeck, gostava que eu interviesse ao lado de um rabino e de um iman sobre "os direitos do homem nas diferentes confissões religiosas". Quanto a Hafid, da Casa do bairro de Bagatelle, desejava a minha presença e a minha participação ao lado de Sara Alexander, cantora israelense, e de Magyd Cherfi (do grupo Zebda). Estes encontros são apaixonantes. Tiro daí a
conclusão de que o diálogo inter-religioso passa
por rostos, num clima de tolerância. Como não ver
que na base há um ecumenismo espontâneo que faz
parte da vida e se entende bem! Cinco anos depois
Chefe de Redacção por um dia O jornal l'Humanité, diário comunista, fez-me esta proposta para a vigília de Natal. Uma boa oportunidade para comunicar! Os responsáveis do jornal pensavam estar a tomar uma opção corajosa. Mas deram-se conta de que não havia qualquer mérito nisso. Quando um jornal se quer aberto, porquê temer um convidado que procura sê-lo? Tomás, da redacção, veio buscar-me ao aeroporto de Roissy. Chegado a Saint-Denis, às instalações onde se fabrica o l'Humanité, dei volta aos locais de trabalho para cumprimentar cada um e cada uma. Às 10h, conferência de redacção para a concepção do jornal. Questão sobre a actualidade mais sombria. Peço que dêem relevo ao anúncio do cessar fogo na Córsega, é uma esperança de paz nesta vigília de Natal, e que não se esqueçam de falar do que me traz preocupado: os sem-documentos. Ao longo do dia trazem-me artigos em rascunho, faxes e despachos das agências noticiosas. Que prazer ter possibilidade de livre expressão! Não me privo dela. Reagi sobre os acontecimentos na Córsega, a maré negra, a dupla pena, os sem-documentos, as inundações na Venezuela... Era noite quando deixei o local. Fazia esta reflexão: o que não me é possível em jornais e revistas católicas, é-o num jornal comunista! |
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